segunda-feira, 22 de abril de 2024

Em forma de Pedal

 Ring Modulators - Parte 1



Eu persigo essa sonoridade, que me lembre, desde que assisti um video de um show do Mahavishnu Orchestra na TV no meio dos anos 70 com O John McLaughlin fritando com um timbre metálico e diferente! Também lembro do John Lord ( Deep Pulple ) usando um Maestro Ring Modulator em cima do Hammond Organ e alterando a frequência de modulação em tempo real gerando um efeito "animal"! Por fim o Sr. Adrian Belew utilizando o R.M. da EHX no King Crimson e também alterando a frequencia da modulação em cima de notas sustentadas e microfonias foi definitivamente a performance que faltava pra me interessar por esse efeito fora dos sintetizadores!

O primeiro R.M. ao qual tive acesso foi o que pude construir com um circuito disponibilizado pelo Craig Anderton através do seu livro Electronic Projects for Musicians. Falando de forma bem superficial, só pra dar uma ideia de como é a geração do efeito, o Ring Modulator é um tipo de efeito de modulação no qual você modula um sinal de áudio ( guitarra, teclado, voz, bateria, etc. ) com outro sinal também na faixa de áudio, independente da forma usada de modulação ( de volume, de afinação, de fase, etc. ). O que difere basicamente de efeitos como trêmolo, vibrato e phase shifter é a substituição do LFO ( o oscilador de baixa frequência ) por um sinal dentro da faixa de frequência de áudio! Pode ser um oscilador eletrônico na faixa de áudio que normalmente se encontra internamente no próprio circuito do efeito, ou algum sinal externo... O efeito, usado como ferramenta de áudio/música, é originário dos sintetizadores modulares. Durante bastante tempo o meu Ring Modulator foi esse do Craig Anderton! Infelizmente era necessário usar sempre com um Noise Supressor ou Noise Gate porque o oscilador de modulação "sangrava" um pouco e era notável quando se parava de tocar... 

Recentemente na web vi um circuito aprimorado desse circuito do Mr. Anderton já com um Noise Gate bem simples apenas na parte modulada. Pois então, você tinha alguns controles, acho que os mais comuns nesse tipo de unidade: O volume do som original sem efeito, o volume do som já com ring modulation, a frequência do oscilador interno ( que eu depois de algum tempo dividi em dois controles adicionando um ajuste "fino" para obter mais precisão e poder afinar o oscilador com uma nota da guitarra, por exemplo. ) e uma chave de "Filtro" que cortava boa parte das frequencias altas do som processado. O efeito pode ser descrito como criação de um novo som com harmônicos superiores e sub-harmônicos. Esses harmônicos gerados, acima e abaixo da fundamental da nota tocada pelo instrumento processado, terão relação matemática entre essa nota tocada e a nota gerada pelo oscilador interno, mas nem sempre terão relação "musical" criando esse efeito "metálico". 

O próximo R.M. que tive contato foi o EHX Frequency Analizer. Não a versão que eu havia visto o Sr. Belew usar no KC, mas uma versão anterior, com entrada de AC lateral. Em termos de controles era bem parecido com o do Craig Anderton caseiro que eu tive, sendo que não havia volumes separados para os sinais original e processado, mas um controle de Blend. De qualquer forma o pedal tinha um som mais denso e forte, além de "sangrar" bem menos o sinal de áudio do oscilador... Mas ainda havia uma sombra desse som bem no fundo. Talvez algum ajuste a ser refeito nos trimpots do pedal... Passei a usar esse pedal mais para gravações e mantive minha versão caseira no pedalboard. Até porque eu já tinha no pedalboard uma fonte simétrica (+15/-15v) para o R.M. do Craig Anderton!

Então lá pelos anos 90 eu soube de um pedalzinho da DOD chamado Gonkulator que tinha um Ring Modulator junto com uma distortion/fuzz em formato compacto e com alimentação 9 volts. Procurei no mercado nacional e nada. Foi então que soube que era um dos modelos que eram simulados iStomp da Digitech que eu já estava de olho pra comprar. A simulação é bastante na cola do pedal real. Usei bastante o iStomp com essa simulação, porém ela era exatamente como a primeira versão do Gonkulator e tinha a frequência de modulação fixada num determinado ajuste. Além disso, apesar de eu gostar bastante dos pedais da DOD dessa época, eles tinham esse chaveamento eletrônico não tão legal e o jack de energia no estilo P2 como os antigos da EHX.

De qualquer forma mais tarde a própria DOD lançou uma série de pedais que trouxe uma nova versão do Gonkulator, dessa vez com um controle para ajuste de frequência da modulação: Bingo! Bem mais acessível como pedal de produção corrente, sem o valor agregado como vintage, peça de colecionador por fazer parte da série de pedais da DOD criados por Jason Lamb, segundo Josh da JHS. Logo consegui um pra mim e o uso regularmente. A alimentação é padrão Boss e o bypass chaveado mecanicamente: TrueBypass. Foi ele que usei para comparar com a simulação do Digitech iStomp. Apenas mantive a frequencia de modulação no mesmo ajuste fixo, pois a simulação foi feita em cima do primeiro Gonkulator.


Observação:
Há um pedal que parece ser clone do Gonkulator 2, segundo o canal do YouTube "60 Cycle Hum", encontrável através de um sistema de compras online da Ásia, ele é chamado simplesmente "Modulator - RingMod". Ele obviamente apresenta os mesmos controles... Segundo o video o pedal parece ser realmente uma cópia total do Gonkulator 2 por um terço do preço. 
Segue o video no final do post!



Na próxima parte vamos um pouco mais fundo nos Ring Modulators com mais funções e possiblidades de interação com outros aparelhos!!!


E seguem os videos:






Links correlacionados:






segunda-feira, 25 de março de 2024

Fuzzelagem - Episódio 5

Interfax Harmonic Percolator HP-1



Um dos maiores fetiches do mundo dos adoradores de pedais de fuzz, objeto de discussões em fóruns sobre construção de pedais e o grande mistério sobre qual era realmente o circuito original e "perfeito" de um determinado pedal foi ( e de certa forma ainda é... ) o Interfax Harmonic Percolator HP-1! E eu confesso que ingressei de cabeça nessa treta toda...rs. À época eu frequentava, além de ser assíduo colaborador com o site brasileiro e pioneiríssio handmades.com.br , alguns outros fóruns gringos que centralizavam grande parte dos que hoje são reconhecidos  bem sucedidos fabricantes de pedais por todo o mundo. Era muito bonito ver na maioria das vezes as pessoas postando com muito boa vontade e desejo por desfazer os mistérios por trás de alguns circuitos "perdidos" ao longo do tempo...

Meu interesse pessoal ( especialmente pela sonoridade distinta ) foi despertado há bastante tempo, mas já com a internet começando a bombar com a web oferecendo conteúdos multimídias... Um site antigo, que não consegui reencontrar até o momento, trazia fotos, um pequeno texto e alguns arquivos de áudio sobre alguns pedais não muito conhecidos, porém muito interessantes segundo o autor. Um deles era o Harmonic Percolator!  As duas características mencionadas do folheto que acompanhava o pedal, e endossadas pelo responsável pelo web site, eram que o pedal reagia muito bem à dinâmica/controles da guitarra e que gerava basicamente apenas harmônicos pares! Já fiquei interessado nesse pedal desconhecido das massas e tão misterioso...rs. 

Harmonic Percolator Original
Esteticamente bem diferenciado, um painel bege apresentando apenas dois potenciômetros deslizantes e a chave de bypass. Sem Status LED nem entrada para fonte, aceitando apenas bateria de 9 volts, além de apresentar INPUT e OUTPUT trocados de lugar em relação ao que se tornou o padrão atual. Depois veio a cereja do bolo, já com advento do YouTube, eis que um vídeo do Sr. Steve Albini mostrando seu pequeno set e o som incrível que tirava de seu HP-1 original começou a correr os fóruns de eletrônica de pedais! Esse vídeo sim, se tornou o fetiche de muitos e criou outras dúvidas. Mostrava uma sonoridade única e cheia de "efeitos colaterais" que enriqueciam ainda mais as possibilidades sonoras do bichinho! Entre as possíveis variáveis que contribuiriam para a sonoridade final  podemos apontar algumas como: a guitarra usada por Albini, que é muito particular, o tipo de amplificação usada no video e mesmo nos albuns do guitarrista e produtor em que ele aponta o uso do HP-1, além do uso de um Noise Gate antes do pedal, o que no mínimo já coloca um buffer entre a entrada do efeito e a guitarra. Mas o grande mistério: todos os modelos de HP-1 originais soariam desse mesmo jeito? 

E mais interessante que as questões colocadas pela maiotia dos interessados no pedal misterioso, é que a arquitetura do circuito é muito simples: apenas dois transistores e alguns resistores, capacitores e diodos, apesar de serem apontadas algumas possíveis versões, todas apresentam essa arquitetura. Daí começam as discussões sobre o que cada componente, além de seu valor nominal, contribuiria para o resultado final. Além da simplicidade do circuito é interessante lembrar que há apenas dois controles no painel do pedal: Harmonics e Balance! O controle de Harmonics é, grosso modo, um controle de volume de entrada do circuito, o que vai funcionar de modo direto como um controle de intensidade de  "Drive/Fuzz" e o Balance nada mais é que o nível de saída, o volume final da unidade. Caso se interessem pela história do pedal e da Interfax ( atualmente a marca parece pertencer ao Chuck Collins da Theremaniacs ) é só perguntar ao Google e ele oferecerá muitos web sites com essas informações. 

Eu mesmo montei várias versões e compartilhei os resultados nos fóruns. Em determinado momento tiva e sorte de esbarrar no técnico que cuidou do famosíssimo HP-1 do Steve Albini. Ele recriou o pedal com componentes similares e não obteve um resultado satisfatório. Mas felizmente fez medidas precisas do original. Eu então montei uma unidade com essas mesmas caracterísiticas dentro das minhas possibilidades e apelidei esse projeto de Albinatti. Os transistores usados foram exatamente os mesmos modelos dos descritos pelo técnico. Incluindo selecionei ambos por medições de ganho e corrente de fuga. É uma combinação interessante de um transistor de Germânio e outro de Silício. O resultado é muito bom, mas não achei tão próximo do que tinha ouvido em termos e "efeitos colaterais' e outros atifícios gerados pelo tal circuito. 

Mantendo todo o resto do circuito como reportado pelo técnico do Albini apenas testei outros transistores dos mesmos modelos, porém com características diferentes de medição. Assim cheguei ao modelo que mais me interessou e apresentou mais peculiaridades e até mesmo excentricidades e apelidei de HP-X II. Anteriormente eu já havia conseguido chegar a um circuito quase tão satisfatório quanto o atual que apelidei de HP-X I ( apelidado Espresso Tone Machine ) e que num segundo momento já testei uma ideia que mantive no mk II - apenas o controle de volume final, deixando totalmente a cargo dos controles da guitarra as possíveis variações de sonoridade. Esse último circuito ficou para mim o mais interessante e cheio de diferenças e possibilidades extremas de timbre e reações à guitarra ( controles, dinâmica e técnicas usadas ) incluindo realimentações acústicas bem usáveis ( feedback ) em altos volumes do amp. Uma característica que sempre me atraiu foi uma espécie de sub-oitava que se insinua e algumas vezes se mostra descaradamente junto à fundamental. Após ver um relato do próprio Steve Albini numa revista virtual especializada eu entendi que o uso de um Noise Gate, ou talvez algum tipo de buffer mesmo, seria parte integrantte do som final do músico! Passei a experimentar com essa ideia e pareceu realmente fazer o som geral do pedal se aproximar do timbre do Albini, criando um tipo de brilho não tão presente anteriormente. 

Ed'sModShop PercFuzz
No entanto, o uso de um volume de entrada ( o Harmonics ) parece ter um efeito mais interessante em relação a obtenção de timbres mais próximos de um drive leve do que apenas usar o volume da guitarra, principalmente se colocarmos o Noise Gate/Buffer entre a guitarra e o pedal. Já outro pedal que tive a felicidade de conseguir num "rolo" de equipamento foi uma versão do Percolator feita pela Ed'sModShop com a adição de um buffer ( ou mesmo um booster ) além de um controle de Bias e uma chave de Modo. Esse pedal é simplesmente surpreendente!!! É ainda mais cheio de idiossincrasias que outras versões a que tive acesso, sonzão, corpo e graves robustos. É realmente um pedal e tanto! Ainda exploro as possibilidades dessa versão e sempre encontro novidades sonoras... Quando esse pedal veio para minhas mãos ele já apresentava um visual, caixa e knobs diferentes dos mais comumente usados  nos pedais do Edu. Certamente sofreu um "re-housing". Eu gosto bastante da identidade visual dos Ed'sModShop, mas também curti o resultado estético desse e ainda adicionei um knob com escala em plaquinha de metal ( como o controle de volume de saída solitário no meu HP-X II ) no controle de Bias, esse que fica bem no meio do pedal e assim o visual ficou ainda mais nessa onda old techno. 

Chuck Collins HP-1 Reissue (THEREMANIACS)
Com o tempo surgiu a oportunidade de adquirir uma unidade de uma réplica, inclusive em termos estéticos, do Interfax Harmonic Percolator HP-1 do Chuck Collins, da Theremaniacs. Essa reedição é endossada como idêntica por muita gente, inclusive pelo próprio Steve Albini. Na verdade isso chegou a ser um problema, pois nos fóruns algumas vezes se postava a reedição como se fosse o original. O pedal é extremamente bem feito em termos estéticos, circuito e componentes. Porém eu não tive muita sorte nessa compra, pois em termos sonoros é um lixo, certamente algo está errado ou mesmo danificado nessa unidade... Com o tempo espero chegar à conclusão do que deve estar com problemas. Pelas medidas feitas sem dessoldar os componentes não descobri nada fora do comum, no entanto... Tentei entrar em contato com o tal Theremaniacs, pelo email em seu site e não obtive resposta! Esperei longamente a resposta que nunca chegou e acabei deixando de lado o possível conserto do pedal por ocupar meu tempo com outras questões e projetos... Espero ainda conseguir consertar esse belíssimo exemplar de HP-1 reeditado!






terça-feira, 12 de março de 2024

Eletracuzkos - #2

 Alaúde Fretless Elétrico e de corpo sólido!



Meu primeiríssimo instrumento foi a flauta doce ainda na escola pública, pois se ministrava aulas de música nas escolas públicas àquela época, e, além da flauta doce, aprendíamos o básico de escrita em pentagrama e um tanto de canto orfeônico. Porém o primeiro instrumento pelo qual me interessei e escolhi foi o cavaquinho. Aprendi o básico com o irmão de meu padrinho, o saudoso Lino, que me passou o "quadrado" e outros rudimentos harmônicos e rítmicos do cavaquinho "de centro". Já havia o fetiche pela guitarra elétrica e logo que possível passei para ela através de uma Giannini Apollo usada! Nunca abandonei completamente o cavaquinho e os encantos de instrumentos acústicos, ou eletroacústicos, de natureza mais étnica sempre me fascinaram... 


Mais tarde tive contato como técnico em meu antigo estúdio com o saudoso Mit Mujalli, que se tornou um super irmão, e a banda Luz da Ásia! Posteriormente pude inclusive fazer parte da formação final da mesma... Assim tive maior contato com a música étnica e a fusão desta com estilos modernos chamada de World Music. Concomitantemente minha fantástica irmã me trouxe da Turquia de presente um pequeno Saz ( ou Baglama, ou Buzuk... ) de seis cordas ( de aço ) afinadas duas a duas. Isso foi um divisor de águas para mim! Com o fascínio pelas músicas indiana, árabe, turca, balinesa, etc. procurei por possíveis instrumentos para aquisição. Eu estava muito próximo de adquirir um alaúde egípcio acústico tradicional ( muito bonito, diga-se de passagem ) quando conheci a tal possibilidade "guitarrística" do instrumento. Neste ponto, não lembro exatamente onde vi primeiro, mas finalmente conheci os alaúdes árabes elétricos de corpo sólido e captação por elemento piezo no cavalete. Ainda muito caro e dificultoso de importar, em conversas com o multitalentoso maestro, instrumentista e luthier Paulo Pereira de Freitas, pedi a ele que fizesse algo assim para mim. E ele fez o meu primeiro Al'ud elétrico e, digo tranquilamente, o fez muito bem! É este que aparece nas fotos mais antigas aqui na postagem. 

Ele está no meio do caminho entre o medieval e o árabe/turco. Tem doze cordas, seis cursos de cordas duplas. No caso do alaúde usa-se nos dias de hoje cordas de nylon com jogos parecidos com os usados em violões. O Maestro Paulo Freitas fazia seus próprios jogos de cordas. Depois descobri que a LaBella fazia jogos específicos para alaúdes turco/árabes. O braço era um pouco mais largo que os dos árabes ou turcos, como o do alaúde medieval. A "mão", ou o que seria o headstock num violão/guitarra, onde se encontram as cravelhas, ficava a 90º em relação à escala, como os alaúdes acústicos tradicionais. As cravelhas eram do mesmo tipo que se vê em instrumentos de corda como violinos, violas e violoncelos, com uma peça de madeira trespassando a madeira da "mão" do alaúde e com o furo para se prender as cordas e ter ação mecânica direta sobre a tensão das cordas.

Com o tempo eu substituí o captador piezo de rastilho, porém mantive a parte elétrica como era, sem pré-amplificação embutida, nem mesmo um controle passivo de volume no instrumento. Isso tudo era deixado a cargo de um "moderníssimo" ZOOM 504 Acoustic Compact Multi Effects Processor com um pedalzinho de expressão da própria ZOOM pra controlar o volume. Mesmo esse primeiro multiefeitos já imprimia muitas características sonoras interessantes que quebravam bastante a dureza da sonoridade do captador piezo de rastilho. Depois ainda usei um multiefeitos ZOOM A2, que vendi recentemente, e ainda uso uma A3, que é excelente para esse fim. Já para conseguir um efeito mais realista de uma sonoridade acústica usei um MOOER GE200 utilizando a possibilidade de carregar um Impulse Response de violão de nylon ( pois não achei o IR de um alaúde acústico ). Todas essas sonoridades estão presentes nos videos no final da postagem.

Alaúde Árabe


Alaude Medieval
O alaúde turco/árabe, entre outras diferenças básicas do alaúde medieval, é um instrumento sem trastes ( fretless ). Essa característica era a que ao mesmo tempo mais me seduzia e mais me assustava...rs. Felizmente o meu interesse e fascínio sobre esse instrumento me fez estudar e conseguir alguns bons resultados. As  possibilidades de articulação num instrumento fretless são sedutoras... E com cordas duplas de nylon realmente passava a ser algo muito diferente do que eu estava acostumado.

Outra característica diferente era como a corda é tangida. No alaúde medieval se usa o dedo para "beliscar" as cordas. No alaúde turco/árabe usa-se um plectro, ou palheta, comprido que mais parece um antigo aparato de plástico que se usava para manter bem esticados os colarinhos de camisas sociais. No meu caso, apesar de ter tentado tocar com esse plectrum específico, preferi manter a palheta de guitarra que já estava acostumado, com formato usual, apenas optei por uma espessura bem mais fina, bem "Light". Minha palheta referência para guitarra elétrica é a Fender Medium! Encontrei algumas até mais baratas que se encaixaram melhor na proposta!

A primeira questão em relação ao instrumento, seja ele acústico ou elétrico, seria definir a afinação básica do a ser usada. Após pesquisar bastante cheguei à conclusão de que o melhor seria usar uma afinação bem comum aos alaudistas árabes, toda em quartas, ficando assim do agudo para o grave: C - G - D - A - F e a mais grave em C ou usada como "drone", afinada levando em conta o tom da música a ser executada. Assim optei por usar apenas 11 cordas, 5 cursos duplos e o sexto simples para facilitar a reafinação! Essa afinação foi mais fácil e lógica para mim e facilitava a digitação de muitas peças árabes populares e até algumas turcas. O mais difícil no entanto foi passar a ter uma relação de memória muscular que torne cada vez mais precisa a afinação das notas digitadas. Paciência e estudo diário, não tem atalhos. Não me considero até hoje um alaudista de maneira alguma, apenas uso o instrumento por puro amor à sonoridade e possibilidades, mas ainda tento manter uma abordagem com um mínimo de proficiência.

Há alguns anos eu tive um acidente e a parte dos afinadores, a mão do alaúde, quebrou e isso me deixou sem instrumento. Ficava de ir visitar me u querido amigo Paulo de Freitas pra levar o instrumento avariado para seu criador consertá-lo. Mas nas correrias acabei por postergar bastante essa visita... Por outro lado surgiu a oportunidade de adquirir um Alaúde Elétrico feito na Turquia de um ótimo e conhecido guitarrista aqui do Rio - João Gaspar! Feito negócio, comecei a me adaptar ao novo instrumento. A largura do braço bem mais justa felizmente não comprometia a digitação de dedos gordos como os meus...rs. A parte de afinação tem um ângulo menos radical ( +/- 45° ) e usa cravelhas mais modernas e comuns para o músico popular, o que fica muito mais fácil para um músico não muito acostumado às cravelhas de instrumentos mais antigos e tradicionais manter-se afinado. 

A captação era do mesmo estilo: um elemento piezoelétrico de rastilho. Porém com um desses pré-amplificadores genéricos encontrados em violões eletro-acústicos de custo mais baixo. Essa adição é, na minha opinião, escelente. Você ganha um instrumento com de eletrônica ativa com vários controles nas mãos: equalização de quatro bandas em pequenos potenciômetros deslizantes e um potenciômetro rotativo diminuto de volume. Ao lado o compartimento para uma bateria de 9 volts e acesso muito facilitado. Com esse instrumento ficou ainda mais fácil se conectar aos setups modernos.




Há um bom tempo atrás pude ver, mas não experimentar, um modelo de alaúde fretless da GODIN. No próximo vídeo o fantástico David Torn mostra o que acha interessante num instrumento como esse e como se pode levar algumas ideias para se usar na guitarra com alavanca...


Ótimo canal para guitarristas que se interessam pelo alaúde turco/árabe:



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Modulações 1.0 - PHASE SHIFTERS

 Do clássico ao moderno, de arma Sci-Fi a popular ferramenta sonora.

A palavra Phaser realmente foi ouvida pela primeira vez por mim na versão ancestral dublada de Star Trek na TV. Só um bom tempo depois é que fui ouvir falar dos tais Phase Shifters num artigo da revista Nova Eletrônica escrito pelo incrível Cláudio César Dias Baptista! Incluindo sua versão do circuito desse efeito, com arquitetura similar ao MXR Phase 90. Construi algum tempo depois o circuito e após várias tentativas consegui fazer a coisa funcionar! Como a minha construção e a própria confecção da placa de circuito eram bem precárias, ficou difícil utilizar ao vivo e eventualmente foi apresentando defeitos variados até para de funcionar... Algum tempo depois pude comprar um Giannini Phase Shifter usado, clone direto do EHX Small Stone, e fiquei ainda mais impressionado com as possibilidades do efeito. Com apenas um knob de controle da velocidade "SPEED" dos ciclos do efeito e uma chave de "COLOR". O som tinha ainda mais profundidade e me impressionou bastante. Com a chave "COLOR" ON o efeito ficava muito mais drmático e profundo! Isso foi em meados dos anos 80 e naquele tempo Flanger e Chorus estavam na "crista da onda", assim acabei trocando o Phaser por um Flanger, também da Giannini.!


Passada a moda avassaladora dos 80, já me distanciando do Chorus e mantendo ainda o Flanger, volto ao pedalzinho de Phaser. Primeiro com um MXR Phase 90 "Block Logo" que não parecia ter aquele som vintage que eu tinha me acostumado... Pesquisei alguns projetos e fiz uma versão "Script Logo" desse mesmo Phaser. Dessa vez construído com mais experiência, capricho e bons componentes! Esse se tornou o meu Phaser mais usado até hoje e pode ser visto na foto ao lado. A tecnologia usada no MXR Phase 90 é diferente da usada no EHX Small Stone. A ideia básica é sempre a mesma: um circuito baseado em estágios de "All Pass Network" controlados por um oscilador de baixa frequencia ( LFO ). No final esse sinal processado pelos estágios de defasamento cíclico é somado ao original e "voilá": phasing sound! Ambos tem 4 estágios. O MXR usa circuitos com transistores FET e CIs OpAmps para cada estágio. O EHX usa CIs OTA. No caso dos MXR Phase 90, se você tiver o cuidado de "casar" direitinho os FETs e calibrar com precisão, o efeito final será impressionante! Foi o que pude verificar nessa nova montagem. Bem mais pra cá da linha do tempo pude adquirir um STEREO PHASER da DOD, já com uma sonoridade bem diferenciada do MXR e do EHX. O recurso de realimentação do sinal processado é muito útil. No EHX Small Stone e seus clones você encontra aquela chave de "COLOR" da qual falei acima que tem uma função similar, mas apenas um ajuste fixo, cria uma sonoridade mais profunda e vocal. Numa postagem sobre o teclado MULTIMAN/ORCHESTRON feito pela Crumar para a Giannini, o modo de phasing usado para processar o som do teclado e recriar um timbre clássico foi justamente com essa chave "COLOR" ON! Mais recentemente tive a oportunidade de pegar um MXR ( esse já da Dunlop ) reedição do Phase 45, que seria um Phaser de apenas dois estágios, e que tem uma sonoridade mais transparente e leve.




Pra completar, além das modelações digitais de phaser encontradas no Digitech iStomp e nos ZOOM MultiStomps, consegui um Quantum QUASAR da SubDecay. Muito interessante e com várias sonoridades possíveis atrvés de apenas três controles! O sempre presente "SPEED" que controla a velocidade dos ciclos do efeito, o já mencionado controle de realimentação, aqui chamado de "REGEN...", e um inusitado controle de formato de onda do ciclo do efeito intitulado apenas de "SHAPE". Esse é praticamente o "pulo do gato" pra novos resultados impossíveis de serem obtidos com os pedais mais clássicos! Normalmente os formatos de onda produzidas pelo LFO ( que controla o ciclo do efeito ) usados nos phasers mais convencionais são mais suaves como senóides e ondas triangulares. Além desses dois tipos o Quantum Quasar oferece onda quadrada, um Sample&Hold, que randomiza os valores dos picos e vales da onda quadrada, e dois tipos de "sequencers" - um com padrão de 8 partes e outro de 16 partes!


Não podia deixar passar o aparelho que seria um dos primeiros ( se não o primeiríssimo...) phasers criados - O UniVibe da Shin-Ei ( distribuído pela Univox )! Por conta da tecnologia diferenciada ( uma pequena lâmpada incandescente cercada por células fotoelétricas e um oscilador com um shape diferenciado ), mas com base tambem nos tais "All Pass Network", tem uma sonoridade próxima e bem característica. Com a ideia de ser um possível simulador, obviamente muito menor, mais prático e bem mais barato em relação aos sistemas de alto-falantes giratórios originais (tipo "Caixa Leslie" ), a feitos para órgãos elétricos acabou por criar-se um novo e bem sucedido efeito para instrumentos elétricos e eletrônicos. Os Vibes são parentes próximos dos Phasers vistos acima, mas com assinaturas sonoras particulares. Tenho algun Vibes, mas nenhum tem a mesmíssima sonoridade do UniVibe original! No vídeo é possível ter uma ideia geral da sonoridade de cada um. Em relação À posição num pedalboard como regra geral ( na minha preferência pessoal, claro ) costumo colocar tanto os Phasers mais clássicos quanto os Vibes antes de Overdrives e depois de Fuzzes.


Video do Josh Scott da JHS Pedals sobre a história do phaser.




sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Notas intermináveis

Sustentação infinita na guitarra?

Uma característica das guitarras elétricas bastante discutida ( e perseguida ) é a capacidade de sustentar uma nota. Diferentes modelos podem apresentar diferença grande nessa característica dependendo de vários fatores de construção. Efeitos como distorção ( de fuzzes a overdrives ) e compressão foram usados como forma de conseguir a impressão de sustentar mais uma nota específica. Com um volume mais alto pode-se obter a realimentação acústica e ter uma sustentação quase infinita da nota, ou de um harmônico específico, dependendo das condições de estrutura da captação, distância e posição do amplificador. 

E-bow
O primeiro sistema que tive contato e que passei a usar como um acessório praticamente indispensável foi o E-Bow! Um aparelho simples e genial que usa eletromagnetismo para recriar um tipo de realimentação e fazer a corda vibrar infinitamente enquanto aplicado. Alimentado por uma bateria de 9 volts, ele é usado pela mão que seguraria a palheta e posicionado apoiando-se nas duas cordas laterais à corda que se quer excitar. Ele tem nessa face que "encara" as cordas dois trilhos que facilitam o apoio nas cordas laterais. Obviamente que só poder-se-á apoiar o E-Bow em duas cordas quando se "aponta" para uma das quatro cordas do B ao A, já que as cordas E, aguda e grave, só oferecerão um apoio lateral. Há um LED na parte de baixo do E-Bow com dois objetivos: mostrar que o aparelho está ativo e pronto para usar; servir como uma espécie de "mira" para que o campo eletromagnético esteja na corda escolhida e no ponto certo em relação ao captador da guitarra. 

JOYO
Essa última relação ( proximidade do captador ) determina tanto o nível de volume sonoro como o timbre, muito próximo chega a gerar um timbre bem distorcido. A proximidade da corda também vai ser determinante no timbre e no volume do som. Com esse tipo de aparelho, basta aproximar bem da corda escolhida que o som surgirá como se a corda fosse tangida por um arco, daí o nome ( E-bow - Electronic Bow ). O E-Bow apresenta também uma chave H-H. 

TC Electronic
Nos modelos mais modernos ela, além de tornar ativo o aparelho, pode escolher entre o modo normal, onde a nota que soará e será sustentada é a oitava original da nota posicionada na escala do braço. No modo harmônico, uma oitava acima é ouvida quando o som é sustentado. Nos aparelhos originais só existia o modo normal... A JOYO lançou há algum tempo um aparelho bem similar ao E-bow, possivelmente com custo reduzido. Ainda não tive um em mãos para testar...  A TC Electronics tinha um similar também, chamado "Aeon String Sustainer".

Roland GS-500
Por outro lado eu tinha comprado uma unidade de sintetizador de guitarra da Roland GR-500, mas sem a guitarra própria ( GS-500 ). Procurando informação em revistas e entre músicos amigos e conhecidos ( tempos pré-internéticos ) pude saber que a guitarra própria do GR-500 tinha um sistema de sustetntação infinita. Infelizmente só pude ter contato com essa guitarra há alguns anos no estúdio do saudoso Marcelo Yuka, através do amigo comum André Sachs, e constatei quão bem funciona essa tecnologia. Onde se aproveitava a existência de um captador hexafônico (que já seria usado para distorcer independentemente cada corda por um circuito de fuzz e depois processar pelo filtro comum a todos, já que a unidade era dita "Parafônica" além de facilitar o disparo do VCO monofônico do sintetizador) bem próximo à ponte, com um conjunto de bobina e imã separados para cada corda e com seis saídas discretas de sinal dirigidas para a unidade de sintetização e o sistema de sustentação infinita na própria guitarra. Além disso há um captador "normal" no meio e mais para o lado do braço encontramos o "driver" hexafônico que excita cada uma das cordas independentemente. O tal "driver" grosso modo tem uma função reversa de um captador, ele cria seis campos eletromagnéticos para excitar as cordas separadamente e assim poder manter cada corda tocada soando até que o guitarrista pare ou troque de notas. Esse sistema possibilita a sustentação de acordes inteiros com as seis notas soando durante o tempo desejado de uma forma eletromecânica.

Fernandes Strat
Um outro sistema similar a esse da Roland GR-500 que logo se popularizou foi o da Fernandes, o Sustainer! Ele usa esse mesmo princípio de captador e "driver", porém usan do um captador comum na posição da ponte do instrumento e um driver mais simples, comum para todas as cordas. Esse sistema funciona com boa eficiência e é bastante eficaz, além de poder ser alimentado por uma bateria comum de 9 volts. Porém, apesar de aumentar a sustentação de acordes ou parte deles, sustenta infinitamente apenas uma nota do acorde feito no final das contas. No caso de se tocar uma nota por vez, como é mais comum em solos e melodias destacadas, a sustentação da nota se segue ao se tocar cada uma. Esse tipo de sistema foi disponibilizado em vários instrumentos da marca e mais tarde também em forma de kit para ser instalado em instrumentos de outras marcas. A instalação requer no entanto modificações no corpo do instrumento... Logo foi adicionada a possibilidade de se sustentar uma oitava acima, o primeiro harmônico, similar ao modo "harmonic" do E-bow!

Fender Ed O'Brian
Realmente nem sei explicar de forma detalhada a razão de eu demorar tantos anos pra começar a "fuçar" esse sistema, diferentemente do E-bow que tenho e uso há bastante tempo. Mas enfim omprei de um amigo essa Stratocaster da Fernandes, ainda com o primeiro sistema de Sustainer, um tanto tosco até... O que, por outro lado, oferece algumas dlimitações em relação ao sistema mais atual e me direciona para um lado criativo e diferenciado. De qualquer forma lidei com algumas características que não me agradaram na guitarra. Troquei a captação e em seguida o braço ( por um braço Squier coreano antido ). Eu confesso que fui bem influenciado pelas ideias implementadas na Fender assinatura do Ed O'Brian ( Radiohead ) em relação à captação: um Seymour Duncan Little 59 na ponte e um Fender Texas Special no meio. Na posição do braço fica o captador e "driver" do sistema Sustainer nativo. Nessa guitarra, no circuito interno existem alguns "trimpots" para ajustes do funcionamento do sustainer e também equilíbrio entre volumes do som da guitarra quando o sistema está ligado ou fora de trabalho. Uma chave externa serve para ligar e desligar o sistema: quando ligado apenas o captador da ponte é usado para produzir som, não importando onde estiver posicionado o seletor de captadores. Isso certamente serve para todos os sistemas que usam esse mesmo principio! 

Sustainiac
O Sustainiac é um outro sistema bastante usado e muito parecido com esse da Fernandes. Ele é vendido em forma de kit para ser colocado em vários modelos de guitarras e também encontrável já instalados previamente e totalmente embutidos em alguns instrumentos de marcas conhecidas. Ainda não tive oportunidade de testar esse sistema, mas tudo indica de que seja muito bom!
Já outra possibilidade para os mais audaciosos que são os possíveis projetos DIY de captador/driver + circuito eletrônico dispostos pela rede. Existem vários projetos circulando pelos fóruns e demonstrados em videos no Youtube.


Seguem os vídeos com duas performances usando E-bow ( o primeiro criando camadas em looping com uma Line6 DL4 e outro com a adição de um slide de vidro )  e uma com a Fernades Strat com o sistema Sustainer:




Exemplo de como se usa o sistema de sustain infinito do Roland GR-500/GS-500





terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Auto/Envelope Filters #1

Do Mutron ao MeetMyBalls

O Mutron III Envelope Filter tornou-se um clássico e uma referência para esse tipo de efeito. Foi de certa forma mais um elemento que fazia parte do universo dos sintetizadores trazido pro mundo dos pedais de efeito e disponibilizado para quaisquer instrumentos eletrificados, sejam guitarras, baixos, pianos elétricos, clavinets, etc. Ele é um filtro dinãmico controlado por um envelope (envoltória), com parâmetros ajustáveis ou não, que é disparado por um sensor a partir do ataque da nota do instrumento à sua entrada. Também é diretamente dependente da amplitude desse sinal, ou seja, a dinâmica das notas tocadas influenciam a abertura/fechamento do filtro normalmente. 

Pode parecer estranho mas o envelope que controlará o filtro vai ser diretamente relacionado ao próprio envelope do instrumento que será processado. Por isso instrumentos que tem o envelope/envoltória de sinal estático, como um órgão, podem não obter efeitos tão interessantes. Instrumentos com som mais percutido são os mais interessantes para o uso desse tipo de efeito. No Mutron III original você vai ter alguns parâmetros ajustáveis por meio de potenciômetros e chaves. Acima à esquerda temos a chave rotatória dos três modos de operação do filtro em relação a bandas passantes: LP (Passa Baixas) Low Pass, BP (Passa Banda) Band Pass e HP (Passa Altas). Os modos LP e HP são os mais encontrados e associados aos sintetizadores analógicos. Já o BP é o tipo de filtro usado nos pedais de WahWah, por exemplo! Abaixo dessa chave temos um potenciômetro de controle da ressonância do filtro, aqui chamado de PEAK. Esse controle permite acentuar a frequencia central do filtro (que normalmente é variada ao longo da envoltória) e pode chegar a perto da auto-oscilação. Mais abaixo encontramos o controle de GAIN, que na verdade é um ajuste de sensibilidade do sensor aos diferentes tipos de sinais, guitarras com captadores mais fortes ou mais fracos, singles/humbuckers, "pegadas" diferentes, isntrumentos pré-amplificados, etc. À direita teremos, além da chave de liga/desliga, o controle de RANGE que aponta qual a faixa de frequencias o filtro opera, se numa faixa mais para médios e graves - LOW, ou mais para médios ou agudos - HIGH. Abaixo dela teremos a chave DRIVE que aponta a direção que o filtro será alterado: se DOWN o filtro normalmente aberto se fecha ao sentir o ataque da nota tocada; se UP o filtro se encontra normalmente fechado e se abre ao sentir o ataque da nota tocada. São efeitos opostos e bem diferenciados.

A LOVETONE era uma empresa que oferecia pedais incríveis e cheios de possibilidades. Um deles o Meatball, uma espécie de evolução do MUTRON III, foi um projeto que me interessou bastante. Aos controles contínuos DRIVE ( tornado SENSIBILITY ) e PEAK  ( tornado COLOUR ) foram adicionados tempo de ATTACK, tempo de DECAY, INTENSITY e BLEND. Este último combina a mistura do sinal processado pelo filtro com o sinal original não processado. Muito interessante! As chaves dos MODE ( LP, BP e HP ) e de como o filtro responde ao disparador DRIVE (DOWN ou UP )  permanecem basicamente do mesmo jeito. Já a chave de RANGE passa a ter quatro áreas diferentes de atuação no lugar de duas. E também ganhamos uma chave que altera o quanto de frequencias globais serão afetadas pelo disparador, com modo total FULL, 1/2 e OFF, essa última faz o filtro se tornar estático, deixando de responder ao disparador. Além disso foi adicionado um loop com send/return para usar efeitos que serão afetados pelo filtro, mas a detecção do disparador do filtro continuará a responder ao sinal original do instrumento. Muito útil pra se colocar um FUZZ nervoso, por exemplo, que deixaria o ataque e a envoltória do instrumento, fazendo que ele perca essa característica que mencionamos antes, mais percussiva e que faz o o filtro mais responsivo e interessante. Duas portas para pedais de expressão passivos, tipo Roland EV-5, uma controla o DECAY e outra a INTENSITY.

Eu usei o projeto McMeat do Moosapotamus, site de efeitos. Apelidei meu pedal de MeetMyBalls. O resultado foi incrível. As portas para pedais de expressão foram omitidas nesse projeto e eu à época não me interessei imediatamente por tentar incluí-las naquele momento. Por outro lado achei que a adição de um LFO para controlar ciclicamente o filtro poderia ser uma boa adição e incluí um LFO de um projeto de um ótimo t^rmolo chamado TremulusLune. Tenho que melhorar a atuação dess LFO, ela ainda fica muito tímida, porém já apresenta uma direção bem promissora. Notei que existe uma versão posterior do MUTRON III chamada simplesmente de MUTRON III+. E nos modos de filtros, além dos LP, BP e HP há um modo N de NOTCH FILTER, que representa um "dente" na resposta do filtro, algo que deve soar diferente! Vou pesquisar pra talvez adicionar isso, caso não seja algo monstruosamente trabalhoso.