sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Notas intermináveis

Sustentação infinita na guitarra?

Uma característica das guitarras elétricas bastante discutida ( e perseguida ) é a capacidade de sustentar uma nota. Diferentes modelos podem apresentar diferença grande nessa característica dependendo de vários fatores de construção. Efeitos como distorção ( de fuzzes a overdrives ) e compressão foram usados como forma de conseguir a impressão de sustentar mais uma nota específica. Com um volume mais alto pode-se obter a realimentação acústica e ter uma sustentação quase infinita da nota, ou de um harmônico específico, dependendo das condições de estrutura da captação, distância e posição do amplificador. 

E-bow
O primeiro sistema que tive contato e que passei a usar como um acessório praticamente indispensável foi o E-Bow! Um aparelho simples e genial que usa eletromagnetismo para recriar um tipo de realimentação e fazer a corda vibrar infinitamente enquanto aplicado. Alimentado por uma bateria de 9 volts, ele é usado pela mão que seguraria a palheta e posicionado apoiando-se nas duas cordas laterais à corda que se quer excitar. Ele tem nessa face que "encara" as cordas dois trilhos que facilitam o apoio nas cordas laterais. Obviamente que só poder-se-á apoiar o E-Bow em duas cordas quando se "aponta" para uma das quatro cordas do B ao A, já que as cordas E, aguda e grave, só oferecerão um apoio lateral. Há um LED na parte de baixo do E-Bow com dois objetivos: mostrar que o aparelho está ativo e pronto para usar; servir como uma espécie de "mira" para que o campo eletromagnético esteja na corda escolhida e no ponto certo em relação ao captador da guitarra. 

JOYO
Essa última relação ( proximidade do captador ) determina tanto o nível de volume sonoro como o timbre, muito próximo chega a gerar um timbre bem distorcido. A proximidade da corda também vai ser determinante no timbre e no volume do som. Com esse tipo de aparelho, basta aproximar bem da corda escolhida que o som surgirá como se a corda fosse tangida por um arco, daí o nome ( E-bow - Electronic Bow ). O E-Bow apresenta também uma chave H-H. 

TC Electronic
Nos modelos mais modernos ela, além de tornar ativo o aparelho, pode escolher entre o modo normal, onde a nota que soará e será sustentada é a oitava original da nota posicionada na escala do braço. No modo harmônico, uma oitava acima é ouvida quando o som é sustentado. Nos aparelhos originais só existia o modo normal... A JOYO lançou há algum tempo um aparelho bem similar ao E-bow, possivelmente com custo reduzido. Ainda não tive um em mãos para testar...  A TC Electronics tinha um similar também, chamado "Aeon String Sustainer".

Roland GS-500
Por outro lado eu tinha comprado uma unidade de sintetizador de guitarra da Roland GR-500, mas sem a guitarra própria ( GS-500 ). Procurando informação em revistas e entre músicos amigos e conhecidos ( tempos pré-internéticos ) pude saber que a guitarra própria do GR-500 tinha um sistema de sustetntação infinita. Infelizmente só pude ter contato com essa guitarra há alguns anos no estúdio do saudoso Marcelo Yuka, através do amigo comum André Sachs, e constatei quão bem funciona essa tecnologia. Onde se aproveitava a existência de um captador hexafônico (que já seria usado para distorcer independentemente cada corda por um circuito de fuzz e depois processar pelo filtro comum a todos, já que a unidade era dita "Parafônica" além de facilitar o disparo do VCO monofônico do sintetizador) bem próximo à ponte, com um conjunto de bobina e imã separados para cada corda e com seis saídas discretas de sinal dirigidas para a unidade de sintetização e o sistema de sustentação infinita na própria guitarra. Além disso há um captador "normal" no meio e mais para o lado do braço encontramos o "driver" hexafônico que excita cada uma das cordas independentemente. O tal "driver" grosso modo tem uma função reversa de um captador, ele cria seis campos eletromagnéticos para excitar as cordas separadamente e assim poder manter cada corda tocada soando até que o guitarrista pare ou troque de notas. Esse sistema possibilita a sustentação de acordes inteiros com as seis notas soando durante o tempo desejado de uma forma eletromecânica.

Fernandes Strat
Um outro sistema similar a esse da Roland GR-500 que logo se popularizou foi o da Fernandes, o Sustainer! Ele usa esse mesmo princípio de captador e "driver", porém usan do um captador comum na posição da ponte do instrumento e um driver mais simples, comum para todas as cordas. Esse sistema funciona com boa eficiência e é bastante eficaz, além de poder ser alimentado por uma bateria comum de 9 volts. Porém, apesar de aumentar a sustentação de acordes ou parte deles, sustenta infinitamente apenas uma nota do acorde feito no final das contas. No caso de se tocar uma nota por vez, como é mais comum em solos e melodias destacadas, a sustentação da nota se segue ao se tocar cada uma. Esse tipo de sistema foi disponibilizado em vários instrumentos da marca e mais tarde também em forma de kit para ser instalado em instrumentos de outras marcas. A instalação requer no entanto modificações no corpo do instrumento... Logo foi adicionada a possibilidade de se sustentar uma oitava acima, o primeiro harmônico, similar ao modo "harmonic" do E-bow!

Fender Ed O'Brian
Realmente nem sei explicar de forma detalhada a razão de eu demorar tantos anos pra começar a "fuçar" esse sistema, diferentemente do E-bow que tenho e uso há bastante tempo. Mas enfim omprei de um amigo essa Stratocaster da Fernandes, ainda com o primeiro sistema de Sustainer, um tanto tosco até... O que, por outro lado, oferece algumas dlimitações em relação ao sistema mais atual e me direciona para um lado criativo e diferenciado. De qualquer forma lidei com algumas características que não me agradaram na guitarra. Troquei a captação e em seguida o braço ( por um braço Squier coreano antido ). Eu confesso que fui bem influenciado pelas ideias implementadas na Fender assinatura do Ed O'Brian ( Radiohead ) em relação à captação: um Seymour Duncan Little 59 na ponte e um Fender Texas Special no meio. Na posição do braço fica o captador e "driver" do sistema Sustainer nativo. Nessa guitarra, no circuito interno existem alguns "trimpots" para ajustes do funcionamento do sustainer e também equilíbrio entre volumes do som da guitarra quando o sistema está ligado ou fora de trabalho. Uma chave externa serve para ligar e desligar o sistema: quando ligado apenas o captador da ponte é usado para produzir som, não importando onde estiver posicionado o seletor de captadores. Isso certamente serve para todos os sistemas que usam esse mesmo principio! 

Sustainiac
O Sustainiac é um outro sistema bastante usado e muito parecido com esse da Fernandes. Ele é vendido em forma de kit para ser colocado em vários modelos de guitarras e também encontrável já instalados previamente e totalmente embutidos em alguns instrumentos de marcas conhecidas. Ainda não tive oportunidade de testar esse sistema, mas tudo indica de que seja muito bom!
Já outra possibilidade para os mais audaciosos que são os possíveis projetos DIY de captador/driver + circuito eletrônico dispostos pela rede. Existem vários projetos circulando pelos fóruns e demonstrados em videos no Youtube.


Seguem os vídeos com duas performances usando E-bow ( o primeiro criando camadas em looping com uma Line6 DL4 e outro com a adição de um slide de vidro )  e uma com a Fernades Strat com o sistema Sustainer:




Exemplo de como se usa o sistema de sustain infinito do Roland GR-500/GS-500





terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Auto/Envelope Filters #1

Do Mutron ao MeetMyBalls

O Mutron III Envelope Filter tornou-se um clássico e uma referência para esse tipo de efeito. Foi de certa forma mais um elemento que fazia parte do universo dos sintetizadores trazido pro mundo dos pedais de efeito e disponibilizado para quaisquer instrumentos eletrificados, sejam guitarras, baixos, pianos elétricos, clavinets, etc. Ele é um filtro dinãmico controlado por um envelope (envoltória), com parâmetros ajustáveis ou não, que é disparado por um sensor a partir do ataque da nota do instrumento à sua entrada. Também é diretamente dependente da amplitude desse sinal, ou seja, a dinâmica das notas tocadas influenciam a abertura/fechamento do filtro normalmente. 

Pode parecer estranho mas o envelope que controlará o filtro vai ser diretamente relacionado ao próprio envelope do instrumento que será processado. Por isso instrumentos que tem o envelope/envoltória de sinal estático, como um órgão, podem não obter efeitos tão interessantes. Instrumentos com som mais percutido são os mais interessantes para o uso desse tipo de efeito. No Mutron III original você vai ter alguns parâmetros ajustáveis por meio de potenciômetros e chaves. Acima à esquerda temos a chave rotatória dos três modos de operação do filtro em relação a bandas passantes: LP (Passa Baixas) Low Pass, BP (Passa Banda) Band Pass e HP (Passa Altas). Os modos LP e HP são os mais encontrados e associados aos sintetizadores analógicos. Já o BP é o tipo de filtro usado nos pedais de WahWah, por exemplo! Abaixo dessa chave temos um potenciômetro de controle da ressonância do filtro, aqui chamado de PEAK. Esse controle permite acentuar a frequencia central do filtro (que normalmente é variada ao longo da envoltória) e pode chegar a perto da auto-oscilação. Mais abaixo encontramos o controle de GAIN, que na verdade é um ajuste de sensibilidade do sensor aos diferentes tipos de sinais, guitarras com captadores mais fortes ou mais fracos, singles/humbuckers, "pegadas" diferentes, isntrumentos pré-amplificados, etc. À direita teremos, além da chave de liga/desliga, o controle de RANGE que aponta qual a faixa de frequencias o filtro opera, se numa faixa mais para médios e graves - LOW, ou mais para médios ou agudos - HIGH. Abaixo dela teremos a chave DRIVE que aponta a direção que o filtro será alterado: se DOWN o filtro normalmente aberto se fecha ao sentir o ataque da nota tocada; se UP o filtro se encontra normalmente fechado e se abre ao sentir o ataque da nota tocada. São efeitos opostos e bem diferenciados.

A LOVETONE era uma empresa que oferecia pedais incríveis e cheios de possibilidades. Um deles o Meatball, uma espécie de evolução do MUTRON III, foi um projeto que me interessou bastante. Aos controles contínuos DRIVE ( tornado SENSIBILITY ) e PEAK  ( tornado COLOUR ) foram adicionados tempo de ATTACK, tempo de DECAY, INTENSITY e BLEND. Este último combina a mistura do sinal processado pelo filtro com o sinal original não processado. Muito interessante! As chaves dos MODE ( LP, BP e HP ) e de como o filtro responde ao disparador DRIVE (DOWN ou UP )  permanecem basicamente do mesmo jeito. Já a chave de RANGE passa a ter quatro áreas diferentes de atuação no lugar de duas. E também ganhamos uma chave que altera o quanto de frequencias globais serão afetadas pelo disparador, com modo total FULL, 1/2 e OFF, essa última faz o filtro se tornar estático, deixando de responder ao disparador. Além disso foi adicionado um loop com send/return para usar efeitos que serão afetados pelo filtro, mas a detecção do disparador do filtro continuará a responder ao sinal original do instrumento. Muito útil pra se colocar um FUZZ nervoso, por exemplo, que deixaria o ataque e a envoltória do instrumento, fazendo que ele perca essa característica que mencionamos antes, mais percussiva e que faz o o filtro mais responsivo e interessante. Duas portas para pedais de expressão passivos, tipo Roland EV-5, uma controla o DECAY e outra a INTENSITY.

Eu usei o projeto McMeat do Moosapotamus, site de efeitos. Apelidei meu pedal de MeetMyBalls. O resultado foi incrível. As portas para pedais de expressão foram omitidas nesse projeto e eu à época não me interessei imediatamente por tentar incluí-las naquele momento. Por outro lado achei que a adição de um LFO para controlar ciclicamente o filtro poderia ser uma boa adição e incluí um LFO de um projeto de um ótimo t^rmolo chamado TremulusLune. Tenho que melhorar a atuação dess LFO, ela ainda fica muito tímida, porém já apresenta uma direção bem promissora. Notei que existe uma versão posterior do MUTRON III chamada simplesmente de MUTRON III+. E nos modos de filtros, além dos LP, BP e HP há um modo N de NOTCH FILTER, que representa um "dente" na resposta do filtro, algo que deve soar diferente! Vou pesquisar pra talvez adicionar isso, caso não seja algo monstruosamente trabalhoso.