Do Analógico ao Ultra-Digital
Já há
bastante tempo que tenho fascínio por sintetizadores, porém conversar com eles
através de um teclado, mesmo que sensível ao toque e à pressão, nunca me atraiu
muito. Entre outras coisa, nunca fui criado com um piano, mesmo que de armário, em casa, como minha avó materna. A guitarra tem sido minha companheira de longa data e, tão logo
apareceram os sintetizadores disparados por elas, passei a me interessar mais e
mais por experimentar essas geringonças.
Tive um pré-histórico Roland GR-500, porém sem a guitarra adequada,
mas acabei adaptando uma guitarra comum... com muita dor de cabeça de lambujem... O GR-500 era um sintetizador analógico e monofônico, pois só possuía um oscilador, tocando apenas uma voz por vez. Ele tinha um modo muito interessante chamado Paraphonic, que na verdade era um primeiro uso da capacidade polifônica do captador sêxtuplo, e usava seis fuzzes/distorcedores, sendo um pra cada corda e ao final passava pelo filtro do sintetizador. Era possível extrair sons muito interessantes e gordos desse bichão!
Passei então para uma guitarra com interface MIDI embutida da CASIO, a MG-510 (disparando módulos como Emu Proteus, Emu Classic Keys e Roland MKS-100). A guitarra era basicamente uma cópia de Fender Stratocaster com captadores magnéticos normais na versão dois singles e um humbucking na ponte, além do hexafônico (sêxtuplo), usado pela parte responsável pela saída MIDI.
Finalmente um Roland
GR-1 com uma interface de controle GK-2A instalada em uma de minhas guitarras, que
ainda tenho e uso eventualmente. Melhor tracking que consegui até então. Que é, para quem não está costumado ao termo, quão eficiente é a relação entre o que tocamos e como tocamos e como a unidade responde.
Como muitos desses sintetizadores tinham por princípio interpretar o sinal de cada corda (e por isso costumava-se usar um captador sêxtuplo, com saídas independentes pra cada corda) e disparar os geradores de som dentro dele (e também poder enviar comandos MIDI para outros módulos de sons externos), a própria maneira de se tocar torna-se meio que escrava dessa nova tecnologia. Para mim é nesse ponto que muitos guitarristas abandonaram a Guitar Synth. Você é obrigado a adaptar sua técnica ao aparelho para conseguir a melhor resposta dele, com menos artefatos sonoros e notas fantasmas!
Como muitos desses sintetizadores tinham por princípio interpretar o sinal de cada corda (e por isso costumava-se usar um captador sêxtuplo, com saídas independentes pra cada corda) e disparar os geradores de som dentro dele (e também poder enviar comandos MIDI para outros módulos de sons externos), a própria maneira de se tocar torna-se meio que escrava dessa nova tecnologia. Para mim é nesse ponto que muitos guitarristas abandonaram a Guitar Synth. Você é obrigado a adaptar sua técnica ao aparelho para conseguir a melhor resposta dele, com menos artefatos sonoros e notas fantasmas!
Então venho
a conhecer o novo anunciado sintetizador GR-55,
da mesma Roland, porém com muito
mais a oferecer que apenas um sintetizador atualizado. Nesse novo conceito a Roland juntou três possibilidades em um
só aparelho: um sintetizador PCM de
duas "parts" disparado pela
guitarra através da interface GK-3
com seu fino captador hexafônico ou com uma das novas
guitarras Fender/Roland GC-1 (uma Stratocaster que já vem de fábrica com
essa interface embutida, além da eletrônica convencional); um modelador "Virtual Guitar" (como os VG-8, VG-88 e VG-99) capaz de
recriar timbres de vários outros tipos de guitarra e alguns instrumentos
acústicos com boa dose de realismo e total articulação processando o som vindo
desse mesmo captador hexafônico; um processador multi-efeitos com a
tecnologia proprietária COSM para os captadores normais da
guitarra usada. Com a adição de mais algumas facilidades e possibilidades a Roland realmente tentou criar uma prática caixa de truques para o guitarrista interessado em alta tecnologia e
portabilidade. Resumindo: você tem um sintetizador de guitarra, uma guitarra
virtual e um processador multiefeitos (incluindo
um looper de áudio e um USB player) no
mesmo aparelho.
Logo que pus o GK-3 em uma de minhas guitarras, passei a encarar um tremendo bando de parâmetros para ajustar o GR-55 ao tipo de guitarra, tamanho de escala, distância do captador hexafônico do GK-3 da ponte da guitarra, sensibilidade de cada corda, etc. E é realmente um passo a frente em termos de menor atraso na resposta ao toque e da percepção de nuances da articulação da guitarra, tanto em termos de dinâmica, como de em que área você toca, harmônicos, etc. Dá um certo trabalho, mas somos muito recompensado pela eficiência de interpretação que o aparelho adquire com esses ajustes bem feitos.
O formato físico escolhido é de pedalboard e não de rack como alguns módulos de Guitar Synth já vistos anteriormente. Na parte traseira temos o soquete de entrada para o cabo de 13 pinos vindo do GK-3, ou outra interface capaz de entregar os sinais compatíveis com essa entrada. Depois dele tem o jaque de saída dos captadores "normais" da guitarra em questão. Ao lado as saídas (L & R) gerais de áudio. A saída para fones de ouvido, os conectores MIDI IN & MIDI OUT, uma porta Mini USB (que pode ser usada pra levar sinais de áudio digital e de MIDI a um computador com software de edição ou de gravação) , o botão de liga/desliga da unidade e o jaque de ligação da fonte de energia elétrica específica.
Na lateral esquerda do aparelho há uma cavidade protegida por uma cobertura de plástico onde se pode inserir e guardar uma memória USB do tipo pendrive. Essa memória poderá conter arquivos de áudio para serem tocados pelo GR-55 e controlados pelos pedais do mesmo. Só são admitidos os formatos AIFF e WAV. Essa memória também pode ser usada para renovar o Firmware do aparelho. No caso da minha unidade eu mesmo fiz essa atualização.
Na parte
superior do aparelho encontramos um display generoso e bem iluminado que
permite a leitura mesmo de longe de muitas informações. O controle de volume de
saída, vários botões de pressão, uma espécie de "chave-rotatória-mais-joystick" de controle de navegação entre as páginas
de informação e edição do software, quatro pedais para funções variadas (desde
selecionar patches até funções de
looping de áudio, ligar o afinador ou tocar os arquivos de áudio) e o pedal de
expressão que pode assumir várias funções (desde controlar parâmetros em cada
patch até a mais simples como volume geral da unidade).
Em relação à
operação: apenas usar os presets sem
entrar no modo de edição é bem fácil. No GK-3
pode-se trocar patches, alterar o volume geral e chavear entre os modos "apenas
synth", "synth + captadores normais" e "apenas a saída dos
captadores normais". Para mim foi notável a melhora de performance desse
novo modelo em relações aos anteriores, porém ainda requer que se pense
diferente do uso de uma guitarra normal quando se usa a parte
"sintetizada". Essa parte tem geradores de som que são disparados
pelas cordas e controlados por elas, podendo seguir a afinação de forma precisa
em todos os microtons (como nos bends)
ou no modo "cromático",
como o nome já diz, trocando de afinação de semitom em semitom. Em relação aos
bancos de sons PCM há muitos timbres
e bem variados, dos mais convencionais aos mais estratosféricos, vai do gosto
do freguês.
Já a parte
de "Virtual Guitar", ou seja, dos modeladores (que na verdade processam o som de cada corda
separadamente e com precisão) de outros tipos de guitarra, violões e timbres
mais exóticos dá muito mais liberdade de se usar a guitarra da forma costumeira:
mais solta e intuitivamente. Os efeitos podem ser dispostos em duas estruturas
definidas, mas muito bem acomodadas para os sons de "synth", "virtual
guitar " ou captadores normais. Uma adição muito interessante é a
possibilidade de selecionar tipos diferentes de presets de equalização do
sinal de saída do GR-55 para que ele
seja acomodado ao tipo de amplificação usado. Se for ligado direto em linha
para um sistema de PA, ou mesmo um Hi-Fi caseiro, para um amp pequeno,
tipo combo,
de estudo para guitarra, ou para amps combos
maiores, stacks, direto no jack de return de amps com Effects
Loop, etc. Para cada situação a equalização minimiza um pouco as perdas
de cada tipo de amplificação usada. Uma excelente ajuda para poder viajar pelas páginas e páginas de ajustes e parâmetros é o software de edição gratuito encontrado na web chamado GR-55 FloorBoard.
http://sourceforge.net/projects/grfloorboard/
http://sourceforge.net/projects/grfloorboard/
Meu
veredicto é que a Roland tem mais um
campeão em mãos, e eu mesmo já tenho o meu, que uso direto...rs. Ok, se por outro lado eu
não abro mão de meus pedais analógicos vintage, handmade reinventados e digitais escalafobéticos, nem mesmo de minhas guitarras pretensamente
vintages - Quando possível! Por
outro lado descobri nesse GR-55 uma
forma de poder reunir uma quantidade grande de possibilidades numa unidade
inteligente e tremendamente portátil. Logo meu novo quinteto/sexteto INNPRATICA deve ir pra
estrada para tocar músicas do meu CD e de CDs dos outros integrantes, com
instrumentos e texturas diversos... O GR-55
aparece como uma solução viável para enxugar o setup necessário para essa
empreitada. Acho que ainda vou brincar muito ao vivo com essa incrível caixa de
truques da Roland!
Digno de Nota: Roland/Fender GC-1 Guitar Controller
Ao longo desses anos usando o GR-1 e agora o GR-55 sempre enfrentei pequenos problemas de performance relativos aos ajustes e instalação dos controladores GK-2A e do GK-3. Algumas notas fantasmas ou alguma mudança não voluntária de afinação ocorriam mais do que eu gostaria... Com o uso da guitarra Fender/Roland GC-1 a grande maioria dos problemas relativos ao tracking acabaram, ou diminuíram drasticamente. Além do que a guitarra (modelo Stratocaster, meu preferido!!!) é ótima em termos de madeiras, construção e tocabilidade. Soube disso através do blog "Louco por Guitarra" dos grandes Paulo e Oscar e fui à cata do instrumento. Fiz pequenos upgrades como trocar os captadores bem genéricos pelos Two Tone da Guitar Garage do Solon Fishbone. Também troquei o bloco de sustain pelo de aço do Carlos Manara. Mais pra frente experimentei e gostei de usar o abafador de cordas da TESLA que pode ser visto na foto do headstock. Ele não rouba muito do timbre acústico da guitarra e me deu a impressão (ilusão?) de ajudar ainda mais a guitarra a achar as fundamentais das notas tocadas.
Louco Por Guitarra: http://guitarra99.blogspot.com.br
Carlos Manara Hardware: manaracarlos@hotmail.com
Guitar Garage: http://www.guitargarage.com.br
Aqui um video clip de um ensaio do meu projeto INNPRATICA onde eu uso patches que misturam as três possíveis gerações de som do GR-55, incluindo mais para o final um patch baseado no antigo Roland GR-300 e seu "trompete nervoso":