terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Descobrindo a Fender Jazzmaster

Saindo da zona de conforto da Strat com alegria!


Há poucos anos eu finalmente consegui uma guitarra que me fascinava demais já há muito, porém me parecia um pouco fora do meu "espectro": a Fender Jazzmaster! Eu já tinha ótimas experiências com linhas diferenciadas das Fender feitas no México ( Road Worns, Classic Series e Classic Players ) assim quando essa Classic Player usada apareceu com um preço possível para mim, eu fui correndo nela!!!


Sunburst já é um visual que me enche os olhos, ainda mais o de três cores tipo anos 60! O escudo "brown shell" que vem de fábrica me parece uma possível escolha cosmética pessoal minha... Esteticamente a guitarra me conquistou ainda nas fotos e estava em boas condições visuais. 

Vamos ao que não estava satisfatório... Primeira coisa: a ação! E veja que eu não uso a ação tão baixa como usadas por quem usa muito tapping e privilegia a velocidade... Tive que mexer na junção braço/corpo e colocar um fino calço de filete de madeira. Ajustando o tensor a ação ficou excelente! Depois vi que a ponte não stava colaborando muito para a afinação da guitarra ao usar a alavanca ou mesmo fazer bends. Eu tinha comigo de um upgrade desfeito em outra guitarra ( já vendida... ) uma ponte com saddles em forma de roldanas e foi com essa ponte que resolvi boa parte desse problema de afinação. Minha primeira guitarra foi uma Giannini Apollo, que tinha uma alavanca desse tipo da Jazzmaster, mas nunca consegui um ajuste satisfatório. No caso dessa guitarra foi muito boa a experiência e a alavanca depois de ajustada funciona muito bem e sem problemas. Não senti necessidade de trocar tarraxas, que são estilo vintage, ou mesmo o "nut". Daí parti para a parte mais sutil: o timbre desejado e a parte eletrônica.

Uma das figuras referenciais mais importantes para mim em relação ao timbre desejado de Jazzmaster era o Nels Cline. Assim, logo que comecei a experimentar os timbres possíveis com os captadores originais não atenderam minhas expectativas. Os captadores de fábrica são ok, mas tem uma onda muito mais pra P-90, incllusive a própria construção deles lembra um P-90 com pinos de material não magnético com dois magnetos na base do captador, um de cada lado da fileira de pinos para magnetizá-los! Os vintage das Jazzmaster eram feitos com pinos de material magnético, Alnico no caso, como os singles originais da Fender. Também já não me interessei imediatamente pela maneira que a parte elétrica é ligada. E o ruído era realmente muito alto quando se selecionava um ou outro captador isoladamente, já a combinação dos dois cancelava o ruído! De imediato desliguei a parte diferenciada da Jazzmaster e fiz uma ligação simplificada de captadores para seletor de pickups, para volume e tonalidade e finalmente o jack de saída. O ruído baixou um pouco. Algum tempo depois eu combinei com o Edu Fullertone para ele produzir um par de pickups bem interessantes para o tipo dessa Jazzmaster. E realmente foram a diferença fundamental no resultado sonoro final. Mesmo assim ainda havia uma sobrinha de "altas" que eu não apreciei, mas eram uma característica normal da combinação dos captadores originais e o wiring tradicional... Então resolvi experimentar, primeiro trocando os valores dos potenciômetros. No que baixei o pot de VOLUME de 1M para 500k já ouvi o timbre que eu queria! Apesar de ler pelos fóruns de guitarras mundo afora que o povo ainda prefere 250k, parei nos 500k, ao menos por enquanto...rs. Só faltava então dar uma ajeitada no ruído, que não era pouco... Os captadores do Fullertone foram baseados nos originais mesmo, então não tem cancelamento de ruído quando combinados! Minha decisão foi usar um "dummy coil" para baixar bastante o ruído geral. Como os dois pickups tem a mesma configuração de fase elétrica e magnética, a ligação do "dummy coil" foi extremamente simples. E realmente isso foi a cereja do bolo!

Pickups P-90 x Jazzmaster
Captadores Estilo P-90 x Jazzmaster Original

No video que se segue eu usei essa configuração atual da Jazzmaster para mostrar o processamento hifi do pedal NEUNABER SLATE V2 e de quebra pude mostrar quão interessante ficou a sonoridade da guitarra. O video se prestou bem a ambos objetivos. No começo ela está passando apenas pelo MOOER GE200 para usar o processamento de simulação de amp e IR de cabinet (Plexi 100 Marshall + 1960 cabinet), só então passa pelo SLATE V2, e daí vai direto pra interface de áudio da TASCAM..  Depois disso é adicionado um Ibanez Mini TS antes do GE200. Já na parte final sai o Mini TS e entra em ação um Behringer Superfuzz.


Especificações de fábrica:
Body: Alder
Finish: Polyester
Neck: Maple
Fingerboard: Rosewood, 9.5" (241mm)
Frets: 21, Medium-Jumbo
Scale Length: 25.5" (648mm)
Nut Width: 1.650" (42mm)
Hardware: Chrome
Tuning Keys: Fender Vintage Style Tuning Machines
Bridge: Fender Adjusto-Matic Bridge With Floating Tremolo Tailpiece
Pickguard: 4-Ply Brown Shell
Pickups
Neck: Special Design Hot Jazzmaster Neck Pickup
Bridge: Special Design Hot Jazzmaster Bridge Pickup
Pickup Switching 3-Position Toggle:
Position 1. Bridge Pickup
Position 2. Bridge and Neck Pickups
Position 3. Neck Pickup
2-Position Slide:
Up: Lead Tone Circuit
Down: Rhythm Tone Circuit

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Vocoder

Fazendo seu intrumento falar e ir além!

Meu primeiro contato com o Vocoder foi através de gravações ainda no final dos anos setenta. Obviamente aquilo parecia pertencer ao céu dos sintetizadores eletrônicos....rs. Em teoria, bem resumidamente, o vocoder superinpõe a um determinado som ( normalmente produzido por um instrumento, um órgão, sintetizador, guitarra distorcida, preferencialmente com um timbre rico e cheio de harmônicos ) as características timbrísticas de outro som, normalmente captados por um microfone, na maioria das vezes usando uma voz falada ou cantada para dar ao timbre do instrumento processado essas características de articulação vocal. As minhas primeiras experiências ouvindo esse tipo de efeito foram divididas entre bandas de música eletrônica como o Kraftwerk, alguns artistas de Dance Music e, já com outro equipamento, alguns guitarristas, estes últimos usando na maioria das vêzes o tal do Talk Box, que foi eternizado em solos icônicos do Peter Frampton! 

O Talk Box é um aparelho eletro-mecânico! Na verdade é um pequeno amplificador com pré e potência integrados a um pequeno alto-falante ou "driver". Desse alto-falante, usando uma espécie de funil, é colocado um tubo que leva mecanicamente o som amplificado até a a boca do intérprete. Normalmente o caminho da guitarra para o amplificador é interrompido para que o som da mesma, já alterado por pedais ou não, saia somente por esse tubo e seja esculpido sonoramente pela articulação da boca do intérprete e então captado por um microfone. Um método que a parece bem mais trabalhoso em situações ao vivo que o Vocoder, na minha opinião, mas que possibilita um tipo de relação instrumento/efeito e resultados sonoros diferentes... Usado na guitarra por famosos como Jeff Beck ( "She's a woman" ), Peter Frampton ( "Show me the way" & "Do you feel like I do" ), Richie Sambora ( "Living on a prayer" ), David Gilmour ( "Pigs" ) e outros... Ou no sintetizador por Roger Troutman do "Zapp", Daft Punk ( "Harder better, faster stronger" ), Uma nota interessante é sobre o BOSS Vocoder VO-1 que, além de oferecer dois modos de "vocoding" e um som de côro, tem um modo de "Talk Box". Não deixa de ser um vocoder como aparelho, pois apenas imita as características sonoras do "Talk Box" sem a necessidade do aparato todo relacionado.

Já o Vocoder é um aparelho eletrônico baseado em uma série de filtros dinâmicos controlados por tensão, a princípio, que processam dinamicamente o timbre do instrumento que passa por ele segundo outra fonte sonora também aplicada a esse aparelho. Como em princípio essa fonte era um microfone para captar a voz humana e imprimir essas características de articulação vocal ao instrumento a ser processado, foi dado o nome de Vocoder a esse efeito. Seria então um instrumento a ter seu timbre processado e o outro apenas para controlar esse processamento. Dois bons exemplos são "The Robots" do Kraftwerk e "O, Superman" de Laurie Anderson. 

O primeiro modelo que me interessou possuia tecnologia puramente analógica, porém não era tão caro, parecendo possível de ser adquirido à época... Era um aparelho de rack em formato de kit para ser montado pelo próprio comprador e vendido pela empresa americana PAIA. Infelizmente foram tantas dificuldades para importar esse kit que acabei desistindo... A PAIA também produzia um kit do, já postado anteriormente aqui, Quadrafuzz - um fuzz multibandas.

Muito tempo depois eu tive acesso a um rack de multiefeitos da ZOOM, já usando tecnologia digital, o STUDIO 1204 que tinha dois algoritmos dedicados ao efeito de vocoding. Não era o que eu imaginava, mas com algum esforço se conseguia chegar próximo ao efeito clássico... Foi possivel imprimir articulações vocais através da entrada de microfone no painel dianteiro com resultados um tanto tímidos comparados aos que ouvia nas gravações com os vocoders "roots". Felizmente com as novas pesquisas das indústrias de processadores de som para intrumentos a coisa foi se aperfeiçoando e chegamos aos dois pedais dedicados ao efeito de Vocoding que vamos mostrar.

Nos videos a seguir eu experimento falar a palavra "Vocoder" e fazer outras vocalizações em um microfone dinâmico ligado na entrada de controle de dois modelos de Vocoder em forma de pedais comuns de guitarra. Isso é sempre bom lembrar: Um microfone ou outro instrumento faz parte desse setup pra se ter um aparelho de Vocoder. Ambos os pedais apresentam entradas XLR de baixa impedância para microfones, se for usar outro instrumento que não tem saída nessas características vai se tornar necessário o uso de um DI Box. O primeiro é o IRON LUNG da EHX. Ele é muito simples e direto. Tem apenas dois knobs, TONE e GENDER BENDER. O primeiro altera a tonalidade do som processado, já o segundo muds a formante da voz ( ou outro instrumento ) inserida na entrada de controle do efeito para timbres mais graves, estilo Darth Vader, ou mais altos, estilo gás hélio! Esse controle è uma ferramenta bem útil e também é encontrada no Vocoder da BOSS VO-1 que vem a seguir! apesente apenas entrada e saída para guitarra ou outro instrumento a ser processado, a XLR do microfone e entrada do adaptador de 9v DC estilo BOSS. O BOSS VO-1 tem bem mais possibilidades. Começa que oferece quatro modos distintos, dois de Vocoder ( Vintage & Advanced ), um de Talk Box ( bem impressionante! ) e um de CHOIR, que na verdade é um sintetizador que dispensa o uso de microfone, apenas sendo disparado pela guitarra, seguindo afinação e dinâmica, polifonicamente, com timbres de coro de vozes sintéticas que se aproximam dos teclados antigos que vinham com o efeito de Vocoder. O BOSS, além de ter as mesmas entradas e saída que o EHX ainda apresenta um loop de send/return para um efeito que será usado quando o pedal estiver em ação. Em alguns momentos, em ambos os videos, um Earthquaker Devices BIT COMMANDER foi usado pra gerar mais harmônicos e oitavas abaixo pra enriquecer o som da guitarra!



Outros instrumentos usados para controlarem os timbres processados pelo Vocoder também podem ter resultados musicais e sonoros incríveis. Nos próximos videos uso um antigo Giannini/Crumar Mulgiman Orchestrator passando pelos Vocoders que dessa vez está sendo controlado por um Korg VOLCA BEATS, usando para isso uma DI box da DOD pra usar a entrada XLR dos pedais.



Vou apontar aqui um video no Youtube em que o músico usa o ZOOM 1204 como Vocoder na sua versão da música do Kraftwerk:


Essa foto ao lado mostra um modelo super interessante de Talk Box de 1969 da Kustom Electronics chamado "The Bag", que mais parece uma gaita de foles hippie (Bagpipe). Eu sabia de sua existencia basicamente por conta do Jeff Beck aparecer com uma unidade desse "The Bag" num video muito antigo da BBC explicando seu setup no começo dos anos 70 e outro no qual usava ao vivo apenas para introdução da sua versão de "She's a woman"... Abaixo segue um video com um feliz proprietário de tal aparelho mostrando como usá-lo!



segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Distorção Multibandas

Distorcer com clareza e com riqueza de harmônicos

Se por um lado uma das coisas mais atraentes e selvagens sobre a distorção Fuzz é a geração enlouquecida de harmônicos e principalmente a intermodulação entre notas em um acorde (gerando ainda mais harmônicos "cabeludos"!), incluindo o efeito tipo "Ring Modulator" quando se toca duas notas ao mesmo tempo em "Octave Fuzzes", por outro lado muito se fez para diminuir ao máximo esse tipo de intermodulação em diversos projetos de distorcedores... Meu primeiro módulo de synth de guitarra, um Roland GR-500, tinha uma solução interessante: usando um captador "hexafônico" (que é a reunião de seis pequeninos captadores com saídas separadas, um para cada corda) com cada saída ligada a um circuito de Fuzz e depois passando pela seção de filtro (VCF) e VCA do synth. Por conta do filtro e do VCA serem únicos para todas as seis notas possíveis geradas pela guitarra, e não um filtro e um VCA para cada corda, chamou-se esse tipo de sintetização quase-polifônica de "Paraphonic". A seção que controla essa parte é chamada de "POLYENSEMBLE" no painel do GR-500.
CCDB Regulus Guitar

Porém o grande e não menos genial Claudio César Dias Batista já havia implementado isso tudo (captação hexafônica e seis fuzzes independentes) dentro de uma guitarra (Regulus) construída para seu irmão Sérgio bem antes da Roland!!!

Roland GS-500
No caso da guitarra específica para o Roland GR-500, (que nunca tive, precisando assim improvisar captadores e eletrônica numa guitarra convencional!) a GS-500 tinha, além do captador sêxtuplo, um sistema polifônico de sustentação infinita, o mesmo princípio do Sustainer da Fernandes Guitars, só que polifônico, se aproveitando da captação independente por corda. Só tive como experimentar isso recentemente quando tive contato com um sistema GR-500/GS-500 de um conhecido...



No caso de guitarras com captadores comuns uma ideia que surgiu no cenário musical eletrônico foi de separar o sinal vindo do instrumento em bandas distintas de frequências e depois distorcer separadamente cada uma dessas bandas para que, por exemplo, uma nota das cordas mais graves não "atrapalhasse" tanto a sonoridade de uma corda mais aguda. Digamos que você pegue uma espécie de equalizador de quatro bandas divididas basicamente em Graves, Médios Graves, Médios Agudos e Agudos, daí, antes de mixar as saídas de cada filtro desses, passe a saída de cada filtro por um circuito de distorção ou fuzz dedicado a cada um deles (nesse caso quatro distorcedores independentes) e então mixar a saída distorcida de cada banda de frequencias. Assim foi criado o Quadra Fuzz, projeto do conhecido gênio da época Craig Anderton. Esse projeto foi comercializado pela empresa PAIA americana apenas em formato de kit em padrão rack de 19" a ser construído pelo comprador. Esse é um projeto que eu ainda tentei converter para o formato de pedal, reduzindo bastante o número de controles e conexões para um básico bem funcional, restando ainda um número de knobs generoso para um pedalzinho de guitarra...


Com o advento de processadores virtuais para DAWs de computadores foram criados vários VSTs baseados em processadores de áudio reais de hardware. Assim surgiu a primeira versão VST do Quadra Fuzz! Eu tive acesso a essa versão e usei em algumas gravações, tanto na guitarra como para manipular sons de bateria e outros instrumentos. O VST era muito interessante, mas como nunca usei o hardware, não sei avaliar quão próximo seria...  Depois houve uma versão 2.0, mas não cheguei a usá-la.


Eu tenho atualmente acesso a dois pedais que usam de forma extremamente distintas esse conceito de distorção multibandas: Uma distorção de uma série antiga da YAMAHA, o MBD-20M Multibanda Distortion, e um pedal da SOURCE AUDIO chamado Multiwave Distortion. O YAMAHA é totalmente analógico e apresenta apenas duas bandas de frequências. Mesmo assim já imprime uma característica diferente ao resultado final. Além dos controles habituais de Output Level, Distortion e Tone vemos o controle de Balance, que equilibra a saída distorcida das duas bandas de frequencias.

Já o Source Audio é um pedal digital extremamente sofisticado com vários algoritmos dedicados à distorção multibandas. O resultado é próximo de um sintetizador polifônico sem a necessidade de captadores ou cabos especiais! Por outro lado não apresenta possibilidade de ajuste entre as bandas de frenquencias já distorcidas. Os controles são de Seleção de Algoritmos, Drive, Sustain, Mix entre sinal processado e limpo, Output Level e um Equalizador de 7 bandas como controle de Tone! Seguem videos dos dois pedais e do plugin VST do QuadraFuzz...







quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Efeitos que mexem com tempo...

Já com certo atraso (😜) chegamos ao assunto "Audio Delay, efeito especial ou ambiência?" iniciando uma nova fase do projeto "TIMBRE-SE!"


O delay, ou eco, vem a ser basicamente um artifício eletrônico que permite adicionar ao som original uma cópia do mesmo, com mais ou menos fidelidade.

Tape delay, analog delay/echo, digital delay, delay modelers... Há uma infinidade de produtos que se baseiam nesse conceito atualmente no mercado! Qual então seria o mais adequado às suas necessidades?

Como à partir de agora estaremos dando o start de um novo projeto, peço a quem se interesse pelo tópico delay que se sinta à vontade para escrever nos comentários o que tem de dúvidas ou interesse em saber sobre esse tipo de efeito!


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