quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Fuzzelagem - Episódio 2

Sola Sound Tone-Bender MK III


No final dos anos oitenta, ou meados dos anos 90, reecebi de presente do meu amigo e de quem sou grande fã, Gustavo Corsi, esse maravilhoso exemplar de ToneBender, velhinho, enferrujado e sem funcionar. Felizmente, depois de passar algum tempo enlouquecido com o que estava ruim, refazer todas as ligações, descobri que havia um capacitor e um potenciômetro totalmente inutilizados. O pot não teve jeito, entrou um Constanta nacional no lugar, já o capacitor eu tinha um outro "tropical fish" pra substituição fetichisticamente correta... E assim fui recompensado e pude usar o famoso MK III, o fuzz de timbre mais "líquido" e arredondado que já experimentei, sem perder a complexidade harmônica que dão esse aspecto "cabeludo" dos bons pedais de Fuzz !!! 


Diferentemente do Big Muff da EHX, o ToneBender MK III tinha um timbre menos potente nos graves, porém tinha uns médios bem mais agradáveis (e definidos!) e de certa forma me lembrava um pouco mais um overdrive quando diminuímos o VOLUME na guitarra. Ele limpa bastante mesmo, de uma maneira "melhor" que o próprio Big Muff, por exemplo, e ao mesmo tempo diferente do Fuzz Face, dando características muito peculiares ao timbre da guitarra. Era tão confortável tocar e tirar sons com esse pedal que num primeiro momento quase abandonei o Grande Muff! Mas, acreditem ou não, eu o achava "pequeno" em termos de corpo de graves no meu antigo Fender DeLuxe Reverb Blackface quando comparado ao Big Muff

A guitarra era uma Strat Fender CIJ reissue 62, captação "careta" de Alnico 5. O som era como uma voz cantando praticamente. Porém o BM fazia o meu pequenino DeLuxe Reverb soar monstruosamente grande, rosnar mesmo! Ao menos essa era a percepção que eu tinha àquela época...rs. Isso unido ao fato de que nunca substituí a chave de bypass e os outros potenciômetros, que funcionam até hoje no limite do randomicamente aceitável, além do pedal ser alimentado apenas à bateria, acabaram por me fazer usá-lo apenas em gravações e raramente ao vivo. Logo depois ainda consegui meu primeiro ProCo RAT distortion e fiquei maravilhado com o pedal. O pedalboard ficou com o RAT e o Big Muff, ou seja um overdrive/distortion  e um fuzz, e isso parecia mais lógico que dois fuzzes... Lógico, hã! como se lógica tivesse alguma coisa a ver com guitarras!!!

No clip abaixo, apesar de ser um vídeo demo do projeto que eu acabara de montar, uma réplica funcional, versão terra negativo, do antigo e raro Baldwin /Burns Buzzaround Fuzz Pedal, dá pra se ter uma ideia de como o MK III canta bonito e limpa de forma incrível com o botão de VOLUME da guitarra, uma Parker P-30 ching-ling com captação Lace Sensor Gold :



Eu antes imaginava sua arquitetura parecida com um Fuzz Face com mais um estágio anterior usando outro transistor. Mas não é isso, é outro tipo de arquitetura e a distorção é conseguida de forma diferente. Sinceramente eu arriscaria dizer que esse é o fuzz que tem o timbre e a relação mais amistosos com qualquer tipo de guitarra e captação que já experimentei. Com amps também!


Eu procurei (e felizmente achei!) um outro clip no Youtube que desse uma ideia diferente da do meu em termos de timbre e com melhores licks pra se ter uma ideia de quão diferente pode soar O MK III, mantendo determinadas características básicas, pois ele aqui aparece bem mais nervoso, porém com a mesma fluidez:


Atualização de 2023




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Addendum: Sobre o Baldwin/Burns Buzzaround...



Esse é um pedal icônico do final dos anos 60 que se tornou famoso principalmente entre os guitarristas do Reino Unido, mais precisamente por conta de Robert Fripp, do King Crimson. Mesmo admitindo que ele próprio conseguiria tirar aquele timbre sustentado e fluído de qualquer fuzz e sua Gibson LP Custom Black Beauty, a curiosidade por conseguir uma dessas caixinhas era grande entre alguns de nós. Eu ao demonstrar a minha versão com terra negativo e transistores NPN, apelidada de Fuxxaround, usei como referência e comparação o MK III simplesmente por ser ele o único pedal original com arquitetura do circuito parecida e conter também três transistores de Germânio.


Então no fórum Freestompboxes.org começou-se uma discussão em volta de dados sobre esse pedal e iniciou-se uma procura por quaisquer pistas espalhadas pela rede, mas que efetivamente não levavam realmente a lugar algum. Isso até que um simpático possuidor de uma dessas raridades apareceu e nos enviou muitas e boas fotos do bichinho. Logo, com trabalho chato, tentativa e erro, chegou-se ao esboço do circuito original. E o próprio rapaz que cedeu as fotos do seu exemplar original construiu seu próprio clone com sucesso! Hoje em dia já não há mais segredo e muitos usaram os achados nessa discussão do fórum para fazer suas réplicas.


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No próximo post da Fuzzelagem as minhas viagens com os Fuzzes Octave Up! 

Até lá!


7 comentários:

  1. Com o MKIII a guitarra quase vira um violino (ou viola?)! Fantástico!

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    1. Isso aí, ele é um fuzz cheio de sustain, mas ao mesmo tempo com um timbre mais redondão! Abraço, xará!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Como canta bonito o Fuxxaround!!! Fripp aprovaria!!!

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    1. Certamente, pois é a versão "facilitada" do que ele usava no começo dos anos 70. A palavra "facilitada" vai basicamente por conta de ter o terra negativo e poder compartilhar fontes comuns em pedalboards, sem maiores exigências. Valeu!

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  3. Grande Alex, sempre aprendo com seus posts. Deu vontade de montar esse MKIII, to para conseguir alguns oc75, acho que ai sai a criança. Ótimo post, aguardo ansiosamente os octave up.

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    1. Maravilha, Laerte! Boa sorte, vale a pena montar! Abraço!

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